OS JARDINS E OS POETAS
A Katyna Henriquez
Wang Wei pintava jardins e cultivava plantas
Na China Imperial pintar plantar jardins
Era bem mais nobre que discursar frente a um senado
inexistente narcotizado
Cícero perora Quintiliano chora
Os senadores não prestam atenção
Porque observam as barrigas das pernas musculosas dos guardas
Dácios & Mésios & Beócios principalmente Beócios
O jardim romano era um pátio de recepção
Com 8 roseiras geométricas
64 vasos de cerâmica 128 plantas de gerânio perfeitamente
retóricas
Horácio queria um jardim regular
O número de folhas de suas roseiras seria contado
O número de pétalas das rosas seria minuciosamente contado
Como sílabas de poemas estritamente sintáticos
As rosas amarelas seriam assonâncias
As rosas vermelhas consonâncias
O jardim horaciano é um Mondrian avant-la-lettre
Mas Horácio não teve dinheiro para comprar escravos que
contassem pétalas e folhas
Silábicas
As pedrinhas das áleas como pausas poéticas
Por isso o jardim de Horácio nunca existiu
Quando nós pensamos nele nos lembramos de um jardim
inexistente
De um jardim civil como Demóstenes
Um ágora iluminado
Por plantas cidadãos atentos à perorata
Plantas como ouvidos vegetais
Nardos como microfones
E o cipreste que se entrevê um agente de imprensa
Wang Wei cultivou seu jardim
E enquanto plantava pintava
Seus microcosmos caligráficos com pedras trazidas de longe
Que o lago e a corrente duplicavam nas sutis tardes outonais
Etc.
Wang Wei cultivava jardins
Wang Wei pintava paisagens
Mas Ella, ah.
Ella
Ella cantaba boleros
Horácio Costa (livro JARDIM DE CAMALEÕES – A Poesia Neobarroca na América Latina :ANO 2004 - editora Iluminuras - página 88; organização, seleção e notas; Claudio Daniel
Nenhum comentário:
Postar um comentário