sábado, 18 de fevereiro de 2012

HERBERTO HELDER

A COLHER NA BOCA                                   

Todas as coisas são mesa para os pensamentos
onde faço minha vida de paz
num peso íntimo de alegria como um existir de mão
fechada puramente sobre o ombro.
_Junto a coisas magnânimas de água
e espíritos,
a casa e achas de manso consumindo-se,
ervas e barcos altos_meus pensamentos criam-se
com um outrora lento, um sabor
de terra velha e pão diurno.

E em cada minuto a criatura
feliz do amor, a nua criatura
da minha história de desejo,
inteiramente se abre em mim como um tempo,
uma pedra simples,
ou um nascer de bichos num lugar de maio

Ela explica tudo, e o vir para mim_
como se levantam paredes brancas
ou se dão festas nos dedos espantados das crianças
_é a vida ser redonda
com seus ritmos sobressaltados e antigos.

Tudo é trigo que se coma e ela
é o trigo das coisas
o último sentido do que acontece pelos dias dentro.

Espero cada momento seu
como se espera o rebentar das amoras
e a suave loucura das uvas sobre o mundo.
_E o resto é uma altura oculta,
um leite e uma vontade de cantar.

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