terça-feira, 31 de janeiro de 2012

EZRA POUND




SAUDAÇÃO

Oh geração dos afetados consumados
e consumadamente deslocados,
Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol,
Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas,
Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes
e escutado seus risos desengraçados.
E eu sou mais feliz que vós,
E eles eram mais felizes do que eu;
E os peixes nadam no lago
e não possuem nem o que vestir.


(tradução de Mário Faustino)

FERNANDO PESSOA

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem  alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo :  "Fui  eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

ALBERTO CAEIRO

 
 
 
 
 
 
I - Eu Nunca Guardei Rebanhos
 
Eu nunca guardei rebanhos, 
Mas é como se os guardasse. 
Minha alma é como um pastor, 
Conhece o vento e o sol 
E anda pela mão das Estações  
A seguir e a olhar. 
Toda a paz da Natureza sem gente  
Vem sentar-se a meu lado. 
Mas eu fico triste como um pôr de sol  
Para a nossa imaginação, 
Quando esfria no fundo da planície  
E se sente a noite entrada 
Como uma borboleta pela janela.  Mas a minha tristeza é sossego 
Porque é natural e justa 
E é o que deve estar na alma 
Quando já pensa que existe 
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso. 
Como um ruído de chocalhos 
Para além da curva da estrada, 
Os meus pensamentos são contentes. 
Só tenho pena de saber que eles são contentes, 
Porque, se o não soubesse, 
Em vez de serem contentes e tristes,  
Seriam alegres e contentes. 
Pensar incomoda como andar à chuva 
Quando o vento cresce e parece que chove mais. 
Não tenho ambições nem desejos  
Ser poeta não é uma ambição minha  
É a minha maneira de estar sozinho. 
E se desejo às vezes 
Por imaginar, ser cordeirinho  
(Ou ser o rebanho todo 
Para andar espalhado por toda a encosta 
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo), 
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol, 
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz 
E corre um silêncio pela erva fora. 
Quando me sento a escrever versos 
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos, 
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento, 
Sinto um cajado nas mãos 
E vejo um recorte de mim 
No cimo dum outeiro, 
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias, 
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho, 
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz 
E quer fingir que compreende. 
Saúdo todos os que me lerem, 
Tirando-lhes o chapéu largo 
Quando me vêem à minha porta 
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro. 
Saúdo-os e desejo-lhes sol, 
E chuva, quando a chuva é precisa, 
E que as suas casas tenham 
Ao pé duma janela aberta 
Uma cadeira predileta 
Onde se sentem, lendo os meus versos. 
E ao lerem os meus versos pensem 
Que sou qualquer cousa natural — 
Por exemplo, a árvore antiga 
À sombra da qual quando crianças 
Se sentavam com um baque, cansados de brincar, 
E limpavam o suor da testa quente 
Com a manga do bibe riscado.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

domingo, 22 de janeiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

CEREJEIRA EM FLOR


criação e empenho
pupila prenhe de flores
cereja amanhã
(Célia Abila)
                                                             Parque do Carmo em Itaquera
                                                             foto: Leda Maria Lucas

domingo, 15 de janeiro de 2012

CACHOEIRA DO TUCHO

cachoeira do tucho
camufla nas folhas e humos
rubor de seu luxo

(Célia Abila)


                                 Cachoeira do Tucho em São Bartolomeu,
                                 Fazenda do Barão,  próximo a Ouro Preto)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

JARINA

do chão brotam frondes
benfeitora de elefantes
Jarina seu nome



Célia Abila




marfim-vegetal

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

PLANTA DO SERRADO


forças naturais
brotam da clara manhã
céu torna-se o pai

(Célia Abila)



                                           planta nova para a ciência

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

PRAIA DE PALM BEACH - ARUBA


matiz do mar verde
olha o céu de primavera
em ninho de pedras

(Célia Abila)


                                           foto de Maria Célia Abila - novembro/2011
calçado de nuvens
o céu  de azul outonal
veste pé de árvore
(Célia Abila)

                                                             foto de Amir Vahedi

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

PRAIA DA SUNUNGA - Gruta que Chora (Dezembro/2011)

a gruta que chora
paz no calor abrigada
pingos de amor livres

(Célia Abila)




                                              foto de Maria Célia Abila

PRAIA DO LÁZARO UBATUBA (dezembro 2011)

muda o mundo e a gente
na tarde de sol e vento
sementes do agora

(Célia Abila)
                                          foto de Sheila Abila Fernandes